Outra vez emoções?

Emoções? Todos nós as temos. São de vários tipos, há até quem lhes atribua cores. O que é certo é que, todos os dias, tentamos lidar com essas emoções, às vezes de forma eficaz, outras vezes nem por isso.

Quando se estuda este assunto os especialistas dividem-se e tomam posições opostas: a defesa da primazia da cognição sobre a emoção ou, por outro lado, a emoção enquanto guia. Já na antiguidade, os filósofos debruçavam-se sobre esta questão e ainda hoje a neurociência estuda o processamento emocional das perspetivas de bottom-up (emoção enquanto resposta ambiental) ou top-down (emoção decorrente de uma avaliação cognitiva).

Na prática, podemos assumir que ambos os processos são interdependentes e não temos necessariamente que tomar uma posição para podermos melhorar a nossa vivência emocional e a das pessoas que influenciamos e ajudamos.[VA1] 

É que, sem emoções, à nossa vida faltaria sentido, textura, riqueza e conexão com os outros. Através delas conseguimos reconhecer as nossas necessidades, sair de situações difíceis ou saber quando estamos satisfeitos e, quando não estamos, elas também nos motivam a fazer mudanças (Leahy, Tirch & Napolitano, 2011).

No entanto, para muitas pessoas, sentir vem com uma conotação negativa associada. Veem-se sobrecarregadas, oprimidas e julgam-se incapazes de “lidar com” as emoções, muito menos regulá-las. Para estas pessoas, as emoções, principalmente as que provocam sensações mais desagradáveis (como a raiva, o medo, a tristeza e a ansiedade), são intoleráveis. Então, as estratégias utilizadas para lidar com elas, muitas vezes não são as mais adequadas, e irão, por si só, causar novos problemas. É aí que entra a regulação emocional.

A regulação emocional é comparada muitas vezes a um termostato que ajuda a manter o equilíbrio. É manter as emoções a uma “dose aceitável” para que se as possa gerir aplicando um conjunto de técnicas. Para a pessoa que for bem-sucedida a aplicar estas técnicas poderá significar que esta tem uma boa inteligência emocional.

Inteligência emocional é perceber, usar, compreender e gerir emoções. Essas competências são importantes na intimidade dos relacionamentos, na resolução de problemas, na tomada de decisões, na família, na escola e no local de trabalho.

E como desenvolvemos a inteligência emocional? Da mesma forma que aprendemos tudo o resto nos primeiros anos de vida. Para além da influência da biologia e do inato, é através das primeiras relações, na família, que se dá a aprendizagem socioemocional. Ao crescermos, vamos estando expostos a cada vez mais modelos de comportamento, como professores e colegas.

Ora, se pensarmos que cada pessoa dá aquilo que tem, que também é aquilo que recebeu dos seus próprios modelos, nem sempre as crianças recebem todas as ferramentas que precisam para uma eficaz regulação das suas emoções.

É aí que entram as ajudas da escola, clínicas e centros como o nosso CDIJ, para ajudar as famílias e jovens a desenvolverem-se. Tendo em conta o impacto que a desregulação emocional poderá ter em todos os aspetos da vida, pessoal, académica, relacional e profissional, esta não poderia deixar de ser trabalhada.

Na transição da infância para a adolescência as transformações físicas, psicológicas e sociais constituem oportunidades para aperfeiçoar estas competências. Para o adolescente ter uma boa regulação emocional significa aprender competências como: (1) perceber, identificar e dar nome à emoção, (2) usar as emoções para tomar decisões e esclarecer valores e objetivos, (3) mudar crenças desajustadas em relação às emoções e (4) aprender maneiras pelas quais as emoções podem ser geridas.

No MOSAICO este trabalho com os jovens é feito no dia-a-dia, mas também com alguns projetos psicoeducativos preparados especificamente tendo em conta as características dos mesmos. É um trabalho que se quer dinâmico e lúdico, tanto quanto compreensivo e integrador das suas experiências. E quando os jovens nos chegam resistentes, aborrecidos, cansados de ouvirem tanta vez falar em emoções e sentimentos, desesperançosos de que algo mude, à espera das mesmas reações de sempre dos adultos à sua volta, nós respondemos: “eu consigo ver que estás aborrecido e que não querias estar aqui, mas eu quero mesmo ouvir o que tens para dizer” e aí, bem, a regulação começa. 😊  

A psicóloga,

Valéria Almeida

CDIJ MOSAICO

Referência: Leahy, R. L., Tirch, D., & Napolitano, L. A. (2011). Emotion regulation in psychotherapy: A practitioner’s guide. The Guilford Press.


 [VA1]Não sei se tiro isto, para reduzir o tamanho e simplificar.

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